segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Fragmentos de um golpe. I.

Quando alguém fala ter havido um golpe político no país, pode parecer, à primeira vista, exagero. Afinal, não vemos tanques nas ruas nem chefes de governo assassinados. Neste ponto, não nos custa ler ou ouvir quem entende para entender as coisas. Carlos Barbé diferencia o golpe de Estado da guerrilha e da guerra revolucionária. Se a guerrilha desgasta até o limite as forças armadas e policiais a serviço do Estado, o golpe “é executado não apenas através de funcionários do Estado (...) mas mobiliza até elementos que fazem parte do aparelho estatal”. Por isso, o Congresso Nacional e os dispositivos constitucionais podem servir de meio e princípio. Mas para o golpe ter êxito, diz Pasquino mais adiante, é preciso “ocupar e controlar os centros de poder tecnológico do Estado, tais como as redes de telecomunicações, o rádio, a TV, as centrais elétricas, os entroncamentos ferroviários e rodoviários”, o que permite “o controle dos órgãos do poder político” (vide o verbete “Golpe de Estado” do Dicionário de política, escrito com N. Bobbio e N. Matteucci, de 1983). Os jornais, as revistas e os noticiários de TV, os mais divulgados e vendidos no país, não cansaram de dizer o mesmo: Fora Dilma! Basta! As manifestações reuniram os honestos contra os corruptos e o pato da FIESP pululou aqui e acolá a farsa de uma revolta contra os impostos: por quais interesses? No jogo de poder das informações e comunicações, quem são mesmo as famílias em razão das quais nos encontramos, mais uma vez, frente a essa destinação política de nossos tristes trópicos? E aqui vale a leitura de Mauro Lopes, dos Jornalistas livres, sobre As quatro famílias que decidiram derrubar um governo democrático:

(http://www.cartacapital.com.br/politica/reflexoes-a-quente-sobre-o-golpe)

Tudo para salvar o país contra o bem geral. 

Jason de Lima e Silva

F. de Goya y Lucientes, Contra o bem geral, Desastres de guerra, c. 1810-1815


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