sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Sede de Educação

Professor Sandro Livramento

“— Estamos vendo as medidas que podemos tomar. Mas depende muito do que a professora quer fazer. A gente não consegue entender de onde saiu essa ideia.” (frase do secretário de educação de Jaraguá do Sul, Rogério Jung para reportagem do clicrbs, 7 de setembro)

Existem muitas possibilidade no caminho da educação. Certamente nenhuma delas é melhor do que a outra ou está em posição privilegiada. Mas em todos os casos, sem exceções, esses caminhos devem levar a uma sociedade mais equilibrada e justa. Caso não seja essa a finalidade, então não é educação.

Um grupo de meninas de 11 anos deu água da privada para sua professora. Não bastando esse horror, a água foi “batizada” com comprimidos. Surpresa?! Infelizmente não.

O espaço da escola pública virou (sempre foi) um lugar de conflito. O que era um conflito entre a classe trabalhadora e as classes dominantes, representadas por seus governos, responsáveis por suas muitas ingerências, por seus descasos e por falta de caminho consolidado para proporcionar uma educação crítica, virou um conflito entre todos. Evidente que tais ingerências também são um projeto de educação, como afirmou Darcy Ribeiro: "A crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto."

Dito e dado este fato, o conflito agora atinge seu ápice com marcados confrontos entre os muros das escolas das salas de aulas. São socos, xingamentos, ameaças e todo tipos de agressão. Tudo devidamente autorizado pelo estado-maior das secretarias e dos seus gestores. Sim, coloquem na conta deles o sucesso do seu incrível projeto de educação. Trabalhadores da educação e os filhos dos trabalhadores são vítimas desse projeto. Agora, sem um caminho seguro, eles se digladiam pela miséria de um espaço sem sentido e sem vida.

Os profundos descasos representados pela falta de estrutura, por baixos salários, pela precarização, pelo sucateamento e pela falta de um projeto da classe trabalhadora e para a classe trabalhadora, faz mais uma vez o seu papel. Joga aos jornais os cadáveres necessários para vender a ideia de que é preciso intervir. Assim, pipocam casos e mais casos e os especialistas de plantão dão suas sentenças: faliu, ruiu, desmoronou! Claro que depois vêm as soluções mágicas e prontas. A escola sem partido é uma delas. A militarização é outra. A busca por gestões mágicas e terceirizadas, como a parceira de institutos privados e do sistema patronal são as em voga no momento. Assim, em silêncio, e com o clamor do momento, avança o famigerado apontamento feito pelo mestre Darcy.

Não percebemos que a educação, que a vereda da educação é um espaço do pensar calmo e do fazer cotidiano. Somente podemos reagir com sabedoria se pudermos pensar com a calma necessária para saber o que nesse espaço pode ser transformado.

É certo que essa necessidade passará por um apontamento importante: o espaço da educação do filho do trabalhador e feito por um trabalhador. Não podemos entregar de bom grado sua concepção para pseudos gestores e pseudos intelectuais. Não podemos permitir ser guiados pela crise. Precisamos resgatar o sentido desse existir, desse fazer e dessa possibilidade de criar caminhos para a mais importante intervenção do homem pela sua humanidade. A educação não pode ser um espaço pobre, feito por um trabalhador pobre e para trabalhadores empobrecidos.

Que esse espaço seja o espaço da sede do conhecimento, pela sede de sabedoria e pela busca da nossa humanidade. Afinal, como cantou o poeta:

“Traga-me um copo d'água, tenho sede.  
E essa sede pode me matar.
Minha garganta pede um pouco d'água.
E os meus olhos pedem teu olhar.
A planta pede chuva quando quer brotar.
O céu logo escurece quando vai chover.
Meu coração só pede teu amor.
Se não me deres, posso até morrer.

Gilberto Gil, "Tenho sede", do álbum Refazenda, 1975

Gilberto Gil, Acústico para MTV, 1994



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